sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Meias decisões .!




(...) Eu havia tomado uma meia decisão, ou uma "quase decisão", havia alcançado um estágio em que já não me obrigava a tomar decisões radicais, absolutas, durante grande parte da minha vida isso me incomodara bastante, tomar adecisões sempre fora um problema para mim; mas eu já não era mais assim, não sofria mais dessa angústia, decidia as coisas sempre pela metade, havendo sempre, portanto, a possibilidade de uma mudança de planos, e essa mudança em nada me afetava, era como se tivesse decidido outra coisa desde o início, tudo bem.


Tomar meias decisões exige uma grande maturidade, não é nada fácil, é preciso estar muito centrado, em acordo consigo mesmo, caso contrário a meia decisão vira nenhuma decisão, o que, convenhamos, é lamentável, fracasso absoluto. Tomar meia decisão significa que você tem um rumo traçado e deverá segui-lo, com firmeza e determinação, mas se o acaso interferir, e se o bom senso aconselhar, você pode tranquilamente mudar o rumo, o leme, navegar noutros mares, e isso é tudo que um ser humano pode querer, concorda comigo?


De repente, senti que uma atmosfera estranha me envolvia, me levava para onde eu não pretendia ir e meu pensamento, foi e voltou algumas vezes, como uma onda, em minha cabeça.


Era a outra metade da meia decisão que vinha agora me visitar, e abri a porta para ela, "seja bem vinda, outra metade, pode entrar". A outra metade não fez cerimônia, entrou e me puxou pela mão até aquele beco sem saída de indecisões que eu tanto quis evitar! (...)






"A Confissão" - pág. 210 (Adaptada)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Metade (Oswaldo montenegro)


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que triste;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.
 
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